04/02/2023

Metamorfoses

 Experimento mudanças cíclicas constantemente na minha vida. Percebo quando as mudanças vêm vindo, assim como percebemos o cheiro de terra molhada da chuva que se aproxima. Sinto quando estou no "olho do furacão" da metamorfose, separando o que não quero mais ser ou fazer, o que vou manter e as novas aquisições.

Estou assim, agora, em plena fase instável intermediária entre algo que não sou e não me serve mais e o mistério do que vou me tornar.

Nestas etapas, até algumas coisas que foram largadas lá atrás, retornam, pois voltam a fazer sentido. Me sinto mais ativa, passei por um período relativamente longo parada, sedentária, como se eu estivesse em uma encruzilhada, não sabendo para que lado ir.

Não, não é um raio iluminador que de repente baixa e somos, subitamente, seres que sabem tudo e estão perfeitamente guiados. É mais um tatear na floresta escura. Ao contrário do que possa parecer, não é uma experiência triste ou negativa, é trabalhosa e difícil.

Estava olhando os papeis que ainda tenho que dar um rumo. Já me livrei de uns 90% de papelada que atrapalhava e atrolhava minha casa e minha vida, mas algumas poucas folhas insistem em passear pela casa, sem ter um local para pousar. Não sei como classificá-las, arquivá-las e ainda não estavam prontas para cumprir o seu ciclo de informação que já serviu. Pensei e descobri que existem coisas que eu não quero mais. Pode ser "para sempre" ou para este momento, mas não cabem mais. Gosto de tricô, mas atualmente não há espaço, tenho outros interesses e metas que não combinam com sentar e tricotar. Tinha alguns projetos de pesquisa ou ideias para artigos que eu não quero perseguir mais, ou por falta de tempo para cumpri-los até a aposentadoria ou porque já não me apaixonam mais. E assim vou simplificando minha vida e encarando de frente no que me tornei e quero me tornar. Isso vale para tudo: hábitos (alimentação, exercícios físicos, cuidados com a casa e meu corpo...) e relacionamentos (sociedade, trabalho, condomínio, família, amigos...).

O que realmente me admira são as pessoas cristalizadas que têm medo das mudanças e pensam que mudar é estar insatisfeito (não deixa de ser, mas não no sentido negativo da coisa). O que não muda, estagna. Estagnação é a verdadeira morte. Água parada apodrece. Água tem que circular, rolar, fluir.

Sou mutante.